A educação é obra do coração
Dom Neri José Tondello – Bispo de Juína, MT
Querida
professora e querido professor!
Faz
alguns dias que tento escrever uma breve mensagem para os senhores e senhoras,
professores e professoras. Pensei que seria mais fácil em vista do que
significa a educação, mas quando se pensa no professor e na professora, o tema
vai de encontro à educação em sua essência original, isto é, educar, como a
arte de puxar para fora, que quer dizer: extrair o que está dentro para trazer
ao mundo do conhecimento, o mundo da luz, como pensava Kant (1724-1804).
Para
Agostinho (354-430), filósofo e teólogo, na sua obra Do Mestre (De Magistro),
diz: “se aprende ensinando”, enquanto para Levinas (1906-1995) “o outro é
mestre do eu” e Paulo Freire, grande mestre que a história não apaga, é
professor sempre necessário para fazer da “educação uma prática para a liberdade”,
bem como a pedagogia do oprimido, uma obra que exalta os pequenos para se
tornarem agentes protagonistas de uma sociedade justa e digna para todos. Me
agrada também Rousseau (1712-1778), quando diz: “se alguém está forçado à
escravidão, e assim obedece, age bem, mas se quebrar os grilhões das correntes
e se libertar, faz melhor”.
“Portanto,
educar é arte que liberta.”
Gostaria
de discorrer com poucas frases sobre a arte de ensinar, isto é, sobre a
maestria do conhecimento, a maestria de ensinar a verdade a respeito de Deus,
do mundo e da pessoa humana. Agostinho quando afirma que se aprende ensinando,
isso é fato, e na prática percebemos: toda vez que repetimos o conhecimento ao
ensinar, mais posse do conhecimento adquirimos, mais aprendemos de nós mesmos
com os questionamentos que os alunos nos fazem. Mais maduros nos tornamos. Mais
competentes, até. Mais autoridade alcançamos, na própria clareza do que se sabe
e na arte de transmitir e construir horizontes mais amplos do conhecimento.
Quanto
mais se repete, para mais turmas e para mais pessoas, mais competência ganha a
arte de educar. Ensinar e aprender ensinando. Agostinho percebe, na sua prática
de mestre, que ao ensinar ele aprende, porque os alunos emitem perguntas, que
são as dúvidas prementes que os assolam e, por isso, a busca constante de um
conhecimento sempre incompleto. Perguntas novas que exigem outras, sempre novas
respostas. Neste sentido, o conhecimento se aprofunda e se torna maior. A
experiência ensina. Aprende-se ensinando. Agostinho.
Para
Levinas, o outro é mestre do eu. Claro que Levinas se referia ao Outro com
letra maiúscula, isto é, Levinas centrava sua atenção ao outro no vir a ser o
Outro, na imagem de Jesus, Filho de Deus, como alteridade do eu, imagem e
semelhança do Pai. O outro me ensina, diz Levinas. O outro também tem
conhecimento. Tem história. Tem vivência. A vida ensina para todos. Todos
aprendemos com todos, contudo, em sala de aula, a autoridade deve ser conferida
ao professor, contrário do que está acontecendo na prática bastante comum de
nossos dias nas escolas. O que está em jogo é o respeito na relação
professor/aluno e aluno/professor.
A
escola deve ser ambiente sagrado, de respeito, de seriedade. De humanismo, de
escuta e de obediência à Verdade. Além de transmitir conhecimento, o ambiente
deve ser de produção de conhecimento pelo ensino, através da ciência, pela
extensão extra sala e pela pesquisa, que não pode extinguir. O ambiente escolar
pode e deve ser espaço para a criatividade: “dar asas à alma”.
Para
o desenvolvimento das faculdades naturais, desde o homo sapiens ao homo
faber, a arte de educar, pensar e fazer artes inteligentes na aplicação da
ciência para o exercício eficaz da tecnologia corrobora com a transformação da
vida ao seu redor. Transformação da natureza, levando em conta os limites do
que ela pode suportar.
Que
artista precisa ser o professor, a professora! Construir mentes. Moldar
corações. Humanizar relações. Construir mulheres e homens capazes para a
vivência da cidadania. Exercício da justiça. Cumpridores dos direitos e deveres
humanos. Uma sociedade fraterna, pautada na civilização do amor, capaz de fazer
a fraternidade universal e a amizade social entre todos. Educar para a prática
do cuidado com a casa comum.
Querida
professora e querido professor, gratidão mil vezes pela paciência. Pela bondade
no trato com os alunos e seus familiares. Obrigado, professor/professora, por
ser multidisciplinar, no sentido pleno da palavra. Em conjunto com a sociedade,
com a família e a escola, somando energias em prol de uma educação de qualidade
para todos. Parabéns! Desejo que o seu sacerdócio, a arte de ensinar, lhe traga
muita alegria pelo dever cumprido; mais ainda, que seja feliz, muito feliz.
Abraços e gratidão.
Esta
frase de Dom Bosco nos lembra o fundamento dessa missão:
”Familiaridade
com os jovens especialmente no recreio, sem familiaridade não se demonstra
afeto, e sem essa demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado
deve demonstrar que ama. O mestre visto apenas na cátedra é mestre e nada mais,
mas, se está no recreio com os jovens torna-se irmão…”