A finalidade e o sentido da Berlinda
Um dos símbolos mais significativos do Círio de Nossa
Senhora de Nazaré de Belém é a berlinda. Mas de onde ela vem? Qual é a sua
finalidade e o seu significado? São questões simples, mas é necessário
respondê-las para o processo de aprofundamento das riquezas do Círio de Nazaré.
Uma vez que se trata de um elemento tão expressivo dessa imponente festividade
religiosa mariana, é importante refletirmos, não somente sobre a sua utilidade,
mas também sobre o seu sentido teológico. Todos os fiéis de uma religião ou de
uma Igreja, são chamados a ter clareza sobre o significado dos objetos usados
em suas cerimônias e do sentido dos ritos celebrados.
A palavra “berlinda” tem sua origem na Europa, por volta do
século XVI e, provavelmente, faz uma direta referência à cidade de Berlim,
capital da Alemanha. A berlinda era a carruagem usada para transportar pessoas
de classes nobres e autoridades políticas daquele tempo e que prosseguiria ao
longo dos séculos. As carruagens eram puxadas por cavalos e a sua estrutura
elevada possibilitava aos cidadãos a visibilidade das pessoas que eram
transportadas solenemente.
O uso da carruagem chegou ao Brasil através dos portugueses.
Ainda hoje a carruagem é usada em muitos países em grandes solenidades, para
dar visibilidade e realçar o caráter excepcional de quem é transportado. É
desse contexto histórico que vem a expressão “estar na berlinda”, que significa
estar sob o olhar de todos, ser observado, estar em evidência.
Partindo desse costume político-cultural passamos para o
contexto religioso. Na nossa experiência religiosa no Círio de Nossa Senhora de
Nazaré, quem está ao centro dos olhares contemplativos, não é uma autoridade
política, mas um símbolo religioso, um objeto sagrado cheio de significados. O
mais importante não é a berlinda, mas o objeto acolhido por ela, a imagem de
Nossa Senhora de Nazaré que, por sua vez, faz referência direta à pessoa de
Maria, a mãe de Jesus.
Maria, foi constituída por Deus Pai, a mulher com a máxima
autoridade no universo, por ser a Mãe do Emanuel, o Deus conosco (cf. Mt 1,23),
a mãe do Senhor de Isabel (cf. Lc 1,43), a mãe do Filho de Deus (cf. Gl 4,4). Por
isso, a liturgia Católica refere-se à Maria como a nova “Arca da Aliança” que
no Antigo Testamento era o recipiente que transportava as tábuas da Lei, a
Palavra de Deus. E Maria transportou no seu ventre, a Palavra de Deus que se
fez homem e habitou entre nós (cf. Jo 1,14).
O mais importante não é a berlinda, a estrutura física
transportadora, mas aquilo que está no seu interior, e o que isso representa. A
berlinda de Nazaré é a carruagem da fé que conduz a Senhora Rainha, porque seu
filho é o Rei dos reis e Senhor dos Senhores. Hoje a carruagem da senhora da
Amazônia não é mais puxada pela força de cavalos, mas levada pela energia que
brota da fé e do amor dos fiéis discípulos do seu Filho, como fez João, o
discípulo amado que levou Maria para a sua casa (cf. Jo 19,27). A berlinda nos
lembra a casa com a presença de Maria dentro dela. Como em Caná da Galileia
(cf. Jo 2,1-11), ainda hoje a mãe de Jesus intercede pelas necessidades das
famílias.
A berlinda não só realça e transporta a imagem, mas também é
uma estrutura protetora para ela. Isso significa para nós que, enquanto
caminhamos nas estradas da vida com Maria, usando das mais variadas estruturas
e bens deste mundo, somos chamados a cuidar e a proteger aquilo que é mais
importante, a nossa interioridade, a nossa mente, a nossa fé. Por outro lado, a
decoração da berlinda, nos alerta para a necessidade da evidência das nossas
virtudes e obras que visibilizam a robustez e a autenticidade da nossa fé.
Feliz Círio!