Missionariedade do cristão
Dom Wilson Angotti - Bispo de
Taubaté (RS)
Motivação
– Com a intenção de nos manter sempre atentos a valores importantes de nossa fé
e vida eclesial a Igreja promove meses temáticos, ao longo do ano. O mês de
outubro é dedicado à reflexão sobre nosso compromisso missionário. Jesus
estabeleceu sua Igreja incumbindo-a de uma missão específica: anunciar o
Evangelho e fazer discípulos. Jesus a quis missionária. Assim sendo, a
missionariedade não é algo opcional, mas uma característica essencial da Igreja
de Cristo. Ou a Igreja é missionária ou não é a Igreja de Cristo. Assim como a
missionariedade está na essência da Igreja, assim deve estar também na essência
de cada cristão, que é membro da Igreja, definindo seu modo de ser e de viver.
Sobre isso vamos refletir.
Fundamentos
bíblicos – A missão da Igreja tem seu fundamento na própria missão de Jesus de
comunicar a Palavra e a salvação a todos os que acolhem esses dons. A missão é
de conduzir todos à comunhão com Deus. Jesus, o Filho Eterno é o enviado de
Deus-Trindade. Constatamos isso, quando Jesus, na sinagoga de Nazaré, leu o
profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou
com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a
libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os
oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor”. Ao terminar a leitura
Ele completou dizendo: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês
acabam de ouvir” (Lc.4,18-21). Na longa história da salvação, após ter enviado
muitos servidores, Deus enviou seu próprio Filho (cf. Mc.12,2-8). A missão de
Jesus continua e se prolonga na missão daqueles que Ele mesmo enviou e chamou
de apóstolos (palavra que significa “enviado”). Os enviados devem seguir o
exemplo de Quem os enviou, e não podem se iludir achando que a missão seja
fácil. A missão cristã é sempre exigente. O que fizeram ao Senhor também farão
com os seus servos (cf. Mt.10,24). O Senhor, porém, se identifica com aqueles
que envia e diz: “Quem escuta vocês, escuta a mim, quem rejeita vocês é a mim
que rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc.10,16). Os
que são enviados por Jesus, vão com a autoridade de Jesus e participam de sua
missão; Ele diz: “Como o Pai me enviou, também eu envio vocês” (Jo.20,21).
Inicialmente, a missão de Jesus havia se limitado “às ovelhas perdidas da casa
de Israel” (Mt.15,24), mas após sua ressurreição, ao comunicar o Espírito
Santo, a missão confiada aos Apóstolos e à toda Igreja ganha dimensão
universal. Jesus diz: “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus
discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e
ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês” (Mt.28,19-20). Contudo,
disse Jesus: “Permaneçam em Jerusalém até que vocês sejam revestidos pela força
que vem do alto” (Lc.24,49). Anunciar o Evangelho e conduzir à comunhão com
Deus é a missão que a Igreja recebeu do Senhor. Para isso a Igreja conta com a
assistência e a graça do Espírito Santo.
Ensinamento
da Igreja sobre a missionariedade do cristão – “’O Espírito Santo é o
protagonista de toda missão eclesial’ (RM.21). É ele quem conduz a Igreja pelos
caminhos da missão. ‘Esta missão, no decurso da história, continua e desdobra a
missão do próprio Cristo, enviado a evangelizar os pobres. Eis por que a
Igreja, impelida pelo Espírito de Cristo, deve trilhar a mesma senda de Cristo,
isto é, o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação de si até
a morte” (AG.5). Buscando enfatizar a essência missionária da Igreja, o
Papa Francisco repete sempre a expressão: “Igreja em saída”; isso se contrapõe
a uma Igreja estagnada, acomodada, fechada em si ou voltada para si, ‘auto
referenciada’, como diz o Papa. A Igreja deve estar em atitude “de saída” pois
recebeu de Jesus a missão de ir e ensinar. “Naquele ‘ide’ de Jesus, estão
presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da
Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária” (EG.20). A
Igreja está em função dos outros aos quais deve iluminar com o anúncio do
Evangelho. É necessário alcançar todas as periferias, ou seja, todos aqueles
que ainda não receberam esse anúncio capaz de transformar a vida. Para alguém
ser missionário não precisa sair do lugar que vive e ir para terras distantes;
o testemunho cristão deve se dar nas circunstâncias ordinárias do dia a dia. “Hoje
que a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária, há uma forma de
pregação que nos compete a todos como tarefa diária é cada um levar o Evangelho
às pessoas com quem se encontra, tanto os mais íntimos como aos desconhecidos.
É a evangelização informal que se pode realizar durante uma conversa (…) na
rua, na praça, no trabalho, num caminho” (EG.127). O Papa Francisco repete
frequentemente uma intuição do episcopado Latino Americano, apresentada no
documento de Aparecida, de que somos “discípulos missionários”; somos
simultaneamente aprendizes e anunciadores. Não precisamos de longos períodos de
formação para só depois atuarmos como testemunhas. O que vivenciamos como
cristãos é o que temos a partilhar com os outros, como anúncio da fé que temos.
Nesse sentido, todos os que têm alguma vivência de fé estão capacitados a
testemunhar a experiência que tiveram. É nesse sentido que não precisamos de
longos períodos de formação para sermos missionários. Emblemática e exemplar é
a narrativa do encontro da mulher samaritana com Jesus. Logo a seguir ela vai à
cidade e conta para os outros tudo o que Jesus lhe falou, de modo que as
pessoas que a ouviram buscaram conhecer o Senhor (cf. Jo.4). Assim deve ser
nosso testemunho como discípulos do Senhor: partilhar com os outros a
experiência que temos com Jesus. O que aprendemos como discípulos, partilhamos
como missionários. Aproveitemos a motivação deste mês e partilhemos com alguém
nossa vivência de fé.