Saudação final do Papa Francisco no final da
Assembleia do Sínodo dos Bispos
Segunda
Sessão da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (02 a 27 de outubro
de 2024) 17ª Congregação Geral
Sala
Paulo VI Sábado, 26 de outubro de 2024
Queridos
irmãos e irmãs,
com o Documento
Final recolhemos o fruto de anos, pelo menos três, nos quais nos colocámos
à escuta do Povo de Deus para compreender melhor como ser “Igreja sinodal”, à
escuta do Espírito Santo, neste tempo. As referências bíblicas que abrem cada
capítulo, organizam a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor
Ressuscitado, que nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida
do que com as palavras.
O Documento
que votámos é um tríplice dom:
1. Para mim, Bispo de Roma (ao
convocar a Igreja de Deus em Sínodo, estava consciente de que precisava de vós,
Bispos e testemunhas do caminho sinodal: obrigado!).
Também o
bispo de Roma, recordo-me a mim mesmo com frequência e a vós, precisa de
praticar a escuta, ou melhor, quer praticar a escuta, para poder responder à
Palavra que lhe repete todos os dias: «Confirma os teus irmãos e irmãs…
Apascenta as minhas ovelhas».
A minha
tarefa, bem o sabeis, é guardar e promover – como nos ensina São Basílio – a
harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações
entre as Igrejas, apesar de todos os cansaços, tensões e divisões que marcam o
seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão do Profeta
Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus para todos os
povos. Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos! Ninguém fique de
fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que é obra do Espírito; a
Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes, é harmonizar todas
aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas coisas… Harmonia! E é
isso que o Concílio Vaticano II ensina quando diz que a Igreja é “como
sacramento”: ela é sinal e instrumento da espera de Deus, que já preparou a
mesa e está a aguardar. A sua Graça, por meio de seu Espírito, sussurra
palavras de amor no coração de cada um. A nós, cabe-nos amplificar a voz desse
sussurro, sem obstruí-la; abrir portas, sem erguer muros. Quanto mal causam os
homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar como
“dispensadores da Graça” que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do Deus
misericordioso. Lembrai-vos de que começamos esta Assembleia sinodal pedindo
perdão, sentindo vergonha, reconhecendo que somos todos misericordiados.
Há um
poema de Madeleine Delbrêl, a mística das periferias, que exortava: «acima de
tudo, não sejas rígido» (a rigidez é um pecado que tantas vezes afeta clérigos,
consagrados e consagradas); leio-vos alguns de seus versos que são uma oração.
Ela diz assim:
Porque
penso que talvez já te tenhas cansado
de pessoas que falam, sempre, sobre servir-te com ar de líder,
conhecer-te com ar de professor,
alcançar-te com regras desportivas,
amar-te como se ama num casamento envelhecido
Faz-nos
viver a nossa vida,
não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são calculados,
não como uma partida em que tudo é difícil,
não como um teorema que nos faz quebrar a cabeça,
mas como uma festa sem fim em que se renove o encontro contigo,
como um baile,
como uma dança,
entre os braços da tua graça,
na música que enche o universo de amor
Esses
versos podem tornar-se a música de fundo com a qual podemos acolher o Documento
Final. E agora, à luz do que emergiu a partir do caminho sinodal, há e
haverá decisões a serem tomadas.
Neste
tempo de guerras, devemos ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma
real ao convívio das diferenças.
Por isso,
não tenho intenção de publicar uma “exortação apostólica”. É suficiente aquilo
que aprovámos. No Documento há já indicações muito concretas que podem
servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos
diversos contextos: por isso, coloco-o imediatamente à disposição de todos. Por
isto, disse que seja publicado. Quero, deste modo, reconhecer o valor do
caminho sinodal realizado, que através deste Documento entrego ao santo
povo fiel de Deus.
Sobre
alguns aspetos da vida da Igreja indicados no Documento, bem como sobre
os temas confiados aos dez “Grupos de Estudo”, que devem trabalhar com
liberdade para me apresentarem propostas, é necessário tempo para chegar a
escolhas que envolvam toda a Igreja. Por isso, continuarei a escutar os Bispos
e as Igrejas que lhes estão confiadas.
Não se
trata de adiar indefinidamente as decisões. É o que corresponde ao estilo
sinodal com que deve ser exercido também o ministério petrino: escutar,
convocar, discernir, decidir e avaliar. E nestes passos, são necessárias as
pausas, os silêncios e a oração. É um estilo que estamos a aprender juntos, um
pouco de cada vez. O Espírito Santo chama-nos e sustenta-nos nesta
aprendizagem, que devemos compreender como um processo de conversão.
A
Secretaria Geral do Sínodo e todos os Dicastérios da Cúria ajudar-me-ão nesta
tarefa.
2. O Documento é um dom para
todo o Povo fiel de Deus, na variedade das suas expressões. É evidente que nem
todos o lerão: sereis sobretudo vós, juntamente com muitos outros, que
tornareis acessível o seu conteúdo nas Igrejas locais. O texto, sem o
testemunho da experiência vivida, perderia muito do seu valor.
3. Queridos irmãos e irmãs, aquilo
que vivenciamos é um dom que não podemos guardar para nós mesmos. O impulso que
vem desta experiência, da qual o Documento é um reflexo, dá-nos a
coragem de testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem
condenar-nos uns aos outros.
Vimos de
todas as partes do mundo, marcados pela violência, pela pobreza, pela
indiferença. Juntos, com a esperança que não desilude, unidos no amor de Deus
difundido nos nossos corações, podemos não só sonhar com a paz, mas
empenharmo-nos com todas as nossas forças para que, mesmo sem falar muito de
sinodalidade, a paz se realize através de processos de escuta, de diálogo e de
reconciliação. A igreja sinodal para a missão precisa, agora, que as palavras
partilhadas sejam acompanhadas de atos. Este é o caminho!
Tudo isto
é um dom do Espírito Santo: é Ele que faz harmonia; é Ele que é harmonia.
São Basílio tem uma teologia muito bela sobre isso. Se podeis, lede o tratado
de São Basílio sobre o Espírito Santo, que é a harmonia. Irmãos e irmãs, que a
harmonia continue mesmo quando sairmos desta sala, e que o Sopro do
Ressuscitado nos ajude a partilhar os dons que recebemos.
E
lembrem-se – são novamente as palavras de Madeleine Delbrêl – que “há lugares
onde o Espírito sopra, mas há um Espírito que sopra em todos os lugares”.
Obrigado
a todos vós, agradecemo-nos uns aos outros. Agradeço o Cardeal Grech,
Secretário (do Sínodo); o Cardeal Hollerich, pelo trabalho feito; os dois
secretários, Ir. Nathalie e D. San Martín, que fizestes bem; e os dois “rapazes
caprichosos”, Pe. Costa e Pe. Battocchio, que nos ajudaram tanto; saúdo todos
estes que trabalharam “nos bastidores”, que ficam por detrás, e que sem eles
não poderíamos ter feito tudo isto.
Muito
obrigado! Que o Senhor vos abençoe! E rezemos uns pelos outros. Obrigado!
Fonte:
Vatican The Holy See