Deixar-se transfigurar por Cristo
05/03/2023Minha saudação aos irmãos e irmãs que acompanham Voz da Diocese. Celebramos o 2º Domingo da Quaresma em preparação para celebrar a Páscoa do Senhor e a liturgia da Palavra nos convida a “subir o monte com Jesus” para ouvir sua Palavra; para contemplar sua glória e para deixarmo-nos transfigurar por Ele, no processo de conversão que este tempo quaresmal nos propõe.
Na Primeira Leitura tirada do Livro do Gênesis no diz que Abraão e Sara foram chamados por Deus para “sair”. Sair da realidade de opressão e de morte que os envolvia e os impedia de ter um olhar de esperança para o futuro. Foram convidados a saírem de sua esterilidade, a terem uma vida fecunda e serem “pais de um grande povo” (Gn 12,2), isto é, a acreditarem na possibilidade de um futuro novo, uma bênção. E o texto do Gênesis diz que Abraão e Sara ouviram este apelo de Deus: “E Abraão partiu, como o Senhor lhe havia dito” (Gn 12,4ª). Abraão é figura de quem crê e, na fé, caminha confiante, aguardando a realização da promessa divina em meio às adversidades da vida.
Caros irmãos e irmãs. Como ocorreu com Abraão e Sara que ouviram a Palavra de Deus e a acolheram, o Evangelho diz que Pedro, Tiago e João foram convidados por Jesus para irem num “lugar à parte”, numa “alta montanha” (Mt 17,1). Para o povo da Bíblia, a montanha sempre foi o lugar onde Deus se deu a conhecer. Foi no monte Sinai que Deus entregou a sua Lei, os “Dez Mandamentos”, a Moisés. Foi lá, também, que Deus se revelou a Elias na “brisa suave”. Lá no monte, depois de uma longa conversa com Pedro, Tiago e João, Jesus “foi transfigurado diante deles” (Mt 17,2). O texto bíblico diz que “o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,2). Por um lado, são imagens da ressurreição de Jesus. Por outro, quer dizer que eles fizeram, com Jesus, uma experiência profunda de Deus, que mudou o seu olhar, a sua compreensão a respeito do próprio Jesus e de seu ministério. É o encontro profundo com Deus que muda e converte as pessoas, que as faz ver a vida e a missão de forma mais clara e convincente.
Jesus já havia dito aos discípulos que ele “não veio abolir a Lei e os Profetas, mas veio para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Moisés e Elias, que respectivamente representam a Lei e os Profetas, falaram com Deus no monte Sinai. O texto do Evangelho descreve que eles estavam no monte, “conversando com Jesus” (Mt 17,3). Significa que Jesus fez Pedro, Tiago e João compreenderem que, por meio de seu ministério, ele era o novo Moisés, isto é, o verdadeiro libertador, o libertador por excelência, e o novo Elias, ou seja, o verdadeiro profeta.
Na transfiguração, Jesus foi apresentado como o “Filho Amado do Pai” (Mt 17,5) e os discípulos foram convidados a “escutar o que ele diz”. “Escutar o que ele diz” (Mt 17,5) significa estar sempre aberto à sua Palavra e sua proposta de vida. A afirmação “ouvi-o” lembra que a Palavra de Deus precisa ser ouvida, praticada e ensinada. Ouvir “é entender e viver tomando a própria cruz (Mt 16,24-26). Ouvir é uma qualidade central do discipulado”.
Diante dos discípulos medrosos, Jesus disse a mesma palavra que Deus havia dito outrora a Abraão e Sara, em Gênesis 13,17: “Levantai-vos e não tenhais medo” (Mt 17, 7). O encontro com Deus, com o Cristo Ressuscitado nos tira da acomodação, nos faz sair das nossas tendas, nos encoraja e nos envia a descer do monte para transfigurar a sociedade em vista do Reino da Justiça e da Paz e como diz a Campanha da Fraternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16).
Prezados irmãos e irmãs. Rumo à Páscoa do Senhor, somos convidados a fazer a experiência do encontro com Jesus transfigurado e a deixar-nos transfigurar por Ele. Precisamos configurar nosso olhar com o de Jesus, um olhar que vê e permanece; se envolve; se compromete, especialmente com ao mais sofredores. Assim como o povo de Israel fora convidado a “ouvir” (Dt 4,1; 6,3-4; 18,15) e “pôr em prática” (Dt 4,1.5-6; 6,1-3) a Palavra do Senhor, todos nós, como discípulos de Jesus, somos convidados por Deus a fazer o mesmo. Que este tempo quaresmal transforme nosso modo de pensar, de viver e de agir, construindo uma sociedade justa e fraterna, onde não haja nenhum necessitado entre nós, como faziam as primeiras comunidades cristãs (Cf. At 2,42-47).
A todos um bom domingo e que Deus os abençoe.