Esvaziar-se de si mesmo, para seguir Jesus!
01/10/2023Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Iniciamos o mês de outubro que nos recorda a dimensão missionária da Igreja e de nossa vida cristã, no seguimento a Jesus. A Liturgia da Palavra, deste domingo, convida-nos a viver e testemunhar a espiritualidade, espalhada na vida e missão de Jesus, ou seja, esvaziar-se de si para abraçar a proposta do Reino de Deus. Somente quem se esvazia de si mesmo pode seguir plenamente a Jesus.
Prezados irmãos e irmãs. A leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses nos revela o fulcro da espiritualidade cristã. Jesus é apresentado como modelo para a vida cristã. O movimento de Jesus, apresentado neste hino cristológico, aponta para a trajetória a ser percorrida por quem quer segui-Lo. O primeiro movimento é de cima para baixo, como se fosse descer uma escada com vários degraus, até o chão: “Ele (Jesus) sendo de condição divina esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição humana; sendo homem, fez-se servo; humilhou-se; e foi obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2, 6-8). Este relato mostra o despojamento de Jesus, seu esvaziamento total, motivados por sua obediência a Deus Pai.
Jesus esvaziou-se de tudo: de posição social, de honras, de fama e da própria vida. Perdeu e entregou tudo pela causa do Reino de Deus. Jesus desceu ao nível mais baixo da existência humana, assumindo a condição de servo, colocando-se a serviço do Projeto do Pai. Ele mesmo disse: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Mas, não seja feita a minha vontade, e sim a tua” (Lc 22,42); e ainda: “Assim, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos” (Mt 20,28).
O modo de ser de Jesus, deve ser a nossa postura assumida na comunidade cristã e no mundo. Jesus Cristo “esvaziou-se a si mesmo”, isto é, assumiu uma atitude baseada unicamente no amor, sem nenhum interesse pessoal. Essa é a verdadeira atitude diante de Deus Pai. Por isso, Deus Pai o exaltou, ressuscitando-o dos mortos e colocando-o no posto mais elevado, conforme Fl 2, 9. A exaltação de Jesus foi a resposta de Deus à sua entrega total. Aquele que se esvaziou encheu-se de glória.
Estimados irmãos e irmãs. O que isto significa e qual sua implicação para a vivência da espiritualidade cristã? O próprio Apóstolo Paulo responde, dizendo: “Tenham uma só aspiração, um só amor, uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure, não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,2-5).
O Evangelho deste domingo, apresenta Jesus em Jerusalém, no templo, ensinando. Na parábola, Jesus se dirige, de forma provocadora, às lideranças. Ele faz o seguinte questionamento: “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar na minha vinha! ’ Este lhe disse: ‘Não quero’, mas depois foi. Depois dirigiu-se ao outro, com a mesma proposta, e este lhe disse: ‘Sim, eu vou. Mas, não foi’ Ao apresentar este “caso”, Jesus perguntou aos sacerdotes e anciãos: “Qual dos dois fez a vontade do Pai?”, de acodo com o evangelho de Mt 21, 28-32. Respondendo à pergunta de Jesus, disseram: “O primeiro”, pois este havia atendido ao convite, ao apelo do pai, para trabalhar em sua vinha. Por isso, ao ouvir deles esta resposta, Jesus lhes afirma que “os cobradores de impostos e as prostitutas os precederão no Reino de Deus”. Não significa que eles entrarão “depois”, mas que ficarão de fora do Reino. Com isto Jesus faz ver e entender que crer e trabalhar na vinha do Senhor é o critério, a condição para entrar no Reino.
A parábola, do Evangelho de hoje, é uma crítica de Jesus àqueles que sustentavam uma sociedade injusta e opressora. Ao responderem, eles emitiram a própria sentença. O primeiro filho representa os pecadores e marginalizados que aceitam a proposta de Jesus. Junto com as prostitutas e cobradores de impostos, constituíam os grupos mais detestados pelas elites religiosas. O segundo filho recorda os próprios sacerdotes, anciãos e escribas, os quais são recalcitrantes na aceitação de Jesus e Seu projeto.
Caríssimos irmãos e irmãs. A espiritualidade critã, no seguimento a Jesus Cristo, exige esvaziamento de si mesmo e abertura solícita para trabalhar na vinha do Senhor. Desse modo, a busca de viver a espiritualidade do seguimento de Jesus, assemelhando-se a Ele, significa ser discípulo-missionário na Igreja e no mundo, ou seja, no próprio ambiente onde nos encontramos, a começar em nossa família e prosseguir na comunidade eclesial.
Que o Senhor nos ajude a buscar o esvaziamento de nós mesmos para nos colocarmos sempre em Seu seguimento e como colaboradores na construção de Seu Reino.
Deus abençoe a todos, e um bom domingo!
Dom Adimir Antonio Mazali
Bispo Diocesano de Erexim – RS