Carta do cardeal Tempesta aos sacerdotes: Espalhar
esperança!
Cardeal Orani João Tempesta -
arcebispo do Rio de Janeiro
Meu caro padre! O próximo
encontro nacional de Presbíteros terá como tema: "Presbíteros: testemunhas
da esperança" e como lema: "Alegrem-se na esperança, perseverantes na
tribulação e constantes na oração" (Rm 12,12). Caminhamos para o jubileu
de 2025 para sermos todos peregrinos da esperança e para isso nos preparamos
com o Ano da Oração. Desejo a cada um que seja testemunha alegre da esperança
cristã!
Nesta Quinta-Feira Santa,
dia de instituição da Eucaristia e do nosso ministério ordenado, quero
dirigir-me aos queridos sacerdotes agradecendo a Deus pela vida e missão de
cada um. Quero dirigir-me aos sacerdotes que vivem e trabalham em nossa
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, e que esta palavra chegue ao
coração de todos os sacerdotes, em sua missão: jovens ou idosos.
A todos quero acolher em
meu coração e oferecer-lhes, como sempre faço, o meu ombro amigo. Neste sagrado
dia da instituição da Eucaristia, quero levar uma palavra de esperança a todos
que comigo levam adiante a missão nesta grande cidade sofrendo os cansaços, as
inseguranças, as incompreensões e as dificuldades da missão. Mas falo
particularmente para os que sofrem, os que estão enfermos, os que são
perseguidos, marginalizados e também aqueles, que se encontram afastados de sua
missão. Sim, todos são sacerdotes, pois fomos configurados a Cristo pela ação
do Espírito Santo, e merecem a nossa proximidade e a nossa vizinhança
espiritual! Estamos juntos e próximos nesta nossa caminhada de esperança nesta
cidade onde Deus habita. A todos os sacerdotes que assumem responsabilidades
diocesanas além daquelas de suas paróquias e que se desgastam para que o Reino aconteça
o meu abraço fraterno e agradecimento a Deus.
Para este importante dia
nesta mudança de época, tomo como referência o meu lema: “Para que todos sejam
um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam
em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). É uma grande consolação
perceber siais dessa comunhão nas atitudes de tantos sacerdotes. Agradeço a
Deus por isso e peço que os conserve sempre com essa disposição. Recordo sempre
da frase evangélica do “Vamos pescar contigo”! Que esse “sentir com a igreja”
cresça sempre mais entre nós. O nosso II Sínodo 2 Arquidiocesano está nos
conduzindo à missão permanente. Como presbíteros, sacerdotes, padres, somos
enviados ao mundo para ser e formarmos;
1. Presbitério: o
presbitério que é a reunião e união na caridade fraterna de todos os
presbíteros em torno do seu Bispo Diocesano. É exatamente o que fazemos nesta
Quinta-Feira Santa quando participamos da Missa do Santo Crisma e renovamos
nossa consagração sacerdotal. É no conjunto do presbitério que desenvolvemos o
afeto colegial, a fraternidade animada num só coração e, por Cristo, no
Espírito Santo, conduzidos a Deus Pai a vivermos a missão na sinodalidade. A
sinodalidade não pode ser caminhar somente com aqueles que nós amamos, queremos
bem ou temos sintonia, mas caminhar todos juntos – na diversidade de dons e
carismas – para manifestar-se a riqueza da universalidade da Igreja.
2. Consagrado a Cristo, o
padre é sempre o homem da comunhão: Toda a vida sacerdotal é marcada fortemente
pelo impulso do Espírito, que leva o sacerdote a assumir os mesmos sentimentos
e ações de Cristo (Fl 2,5). Sua vocação, ele a compreenderá sempre com a clara
referência aos outros. Ele é sacerdote para os outros, e não para si mesmo. O
sacerdote é chamado a construir pontes de comunhão na vida da Igreja e que esta
comunhão seja sinal da santidade da Igreja no mundo.
3. O padre é o homem da
acolhida: o padre acolhe a todos os que batem às portas de sua comunidade.
Consideremos que o Papa Francisco insistiu em Lisboa: “devemos acolher todos,
todos, todos” o sacerdote é o homem consagrado para a comunhão e a acolhida.
Acolher, se traduz numa atitude samaritana, com santa paciência, em especial,
os doentes, os marginalizados, os desempregados, os sem casa e sem teto, os
excluídos e os que vivem às margens da sociedade, todos os que procuram a
Igreja.
4. O padre é homem da
fraternidade: ao pregar o amor fraterno e a solidariedade, devemos levar em
conta que é necessário primeiro, viver a fraternidade entre os próprios padres
para que nosso testemunho seja credível aos fiéis leigos e por esta humana ação
santifique o povo de Deus que é confiado ao nosso cuidado pastoral. A
fraternidade ou a amizade social tem sentido se nos esforçarmos por vivê-la no
cotidiano de nosso ministério de dispensadores dos mistérios sagrados poia
somos irmãos pelo batismo e pela ordenação sacerdotal. Fraternidade, tem a ver
com paciência, com a capacidade 3 de sentir-se responsável pelos outros, de
carregar seus fardos. É uma atitude que nasce do coração. A falta de
fraternidade atormenta os nossos ambientes eclesiais, causa uma fadiga na
pedagogia do amor. O amor fraterno, lembra o Papa Francisco, “não busca seu
próprio interesse, não deixa espaço para a raiva, para o ressentimento”, não se
lembra “para sempre do mal-recebido” a ponto de talvez “gozar da injustiça
quando se trata da pessoa que me fez sofrer”, e “considera um pecado grave
atacar a verdade e a dignidade dos irmãos através de calúnias, maledicências,
fofocas”.
5. O padre é homem da
proximidade. Os padres devem estar sempre disponíveis para a vivência da
acolhida e da fraternidade. A misericórdia, tão cara ao Papa Francisco, passa
pela escuta, pela oração em comum, e pela caridade fraterna. Sejamos próximos
dos mais próximos para que o nosso testemunho nos ajude a acolher os mais
distantes.
6. O padre é o homem da
oração. A oração do sacerdote, além das obrigatórias da Liturgia das Horas, é o
sustentáculo da vida e do ministério presbiteral. O sacerdote é considerado o
homem do Espírito. O seu agir é segundo a vontade do Pai, como Cristo, sob a
ação do Espírito que foi derramado em sua vida mediante a ordenação sacerdotal
e continua permanentemente. O padre que tem dificuldade de tirar um tempo
especial durante o dia de trabalho para a oração, esvazia o seu ministério. É
através da oração que o padre evangeliza e se fortalece na missão de pastorear,
os fiéis percebem quando o padre é um homem de oração, ele é homem guiado por
Deus, graça passa através dele para ser mediador entre Deus e os homens. Neste
ano da oração em preparação ao grande jubileu de 2025 somos chamados a
aprofundar ainda mais nossa escuta do Senhor que passa em nossas vidas.
7. O padre é o homem que
constrói pontes. Nós somos dispensadores dos mistérios sagrados e a nossa
função é ligar e desligar, é amar e perdoar, ser o bom odor do Cristo que
carregamos no exercício público de nosso ministério. Em 2013, o querido Papa
Francisco afirmava: “O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que unge pouco,
perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais
profunda do seu coração presbiteral”. O padre tem a missão de construir pontes.
8. O padre é o homem da
caridade. Sim, o padre é o primeiro que acolhe os marginalizados, os
descartados, os perseguidos, os que 4 vivem em zonas de vulnerabilidade.
Acolher sem prejulgamentos. Acolher sem preconceitos. Acolher com compaixão.
São tantos que gastam suas vidas em prol dos necessitados procurando minimizar
os sofrimentos do próximo.
9. Proximidade com o
Bispo Diocesano: eu gostaria de reafirmar que estou sempre aberto para escutar,
ouvir, dialogar e acolher a todos os sacerdotes, já que ninguém é detentor da
vontade de Deus, que deve ser entendida somente através do discernimento.
Evitem, caros padres, o fechamento em si mesmo e procure sempre um colega ou
diretor espiritual para desabafar, se reconstituir. O seu caminho que deve ser
sempre um caminho rumo ao horizonte que é Cristo!
10. Lembro, por fim, que
nós não somos executivos de um ofício, mas pastores do rebanho por quem damos a
vida. O Papa Francisco na Evangelii gaudium recomenda aos bispos de “praticar a
arte de escutar, que é mais do que ouvir”. A primeira coisa, na comunicação com
o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual
não há um verdadeiro encontro espiritual”. Hoje temos os passos da conversação
espiritual e o discernimento nesse caminhar da igreja sinodal. 11.Vivamos, no
nosso ministério o amor fraterno. Ensina o Papa Francisco que “O amor fraterno,
se não queremos adoçá-lo, acomodá-lo ou menosprezá-lo, é a “grande profecia” de
que, nesta sociedade de desperdício, somos chamados a viver. Eu gosto de pensar
no amor fraterno como uma academia do espírito, onde dia após dia nos
confrontamos e temos o termômetro de nossa vida espiritual.” Somente “quem
procura amar está seguro”, resume o Papa Francisco, porque “quem vive com a
síndrome de Caim”, convencido “de que não pode amar porque sente sempre de não
ter sido amado”, justamente por causa disso “é mais expostos ao mal: a se
machucar e a fazer o mal”. Eu diria até mesmo que onde a fraternidade
sacerdotal funciona e existem laços de verdadeira amizade, também é possível
viver a escolha celibatária com maior serenidade. Vivemos com um coração
indiviso a serviço do querido povo de Deus.
Lembro que o lugar de
todo sacerdote “é no meio do povo”, para descobrir que Jesus crucificado “quer
nos usar para nos aproximar cada vez mais de seu amado povo”. Ele “quer que
toquemos a miséria humana”, e que conheçamos “o poder da ternura”. Esta
proximidade, como os outros, convida o Papa Francisco, de fato “exige,
continuar o estilo do Senhor”, 5 feito “de compaixão e ternura, porque ele é
capaz de caminhar como o Bom Samaritano”. Como aquele que “reconhece as feridas
de seu povo”, os sacrifícios “de tantos pais e mães para manter suas famílias,
e as consequências da violência, corrupção e indiferença”.
Um pensamento muito
carinhoso e agradecido pelos nossos sacerdotes idosos ou enfermos que gastaram
suas vidas em prol do evangelho e hoje continuam pregando a palavra de Deus com
a vida de oração e contemplação, uma parte deles residente na Casa do Padre
Cardeal Câmara, a quem abraço com carinho e respeito.
Não poderia deixar de
levar também meu abraço e fazer a minha visita muito cordial aos sacerdotes que
estão fora do ministério: continuam nossos irmãos e a caridade começa dentro de
casa. Recebam minha proximidade espiritual!
Ao cumprimentar cada um
dos sacerdotes, com alegria no coração peçolhes ânimo, coragem e ardor
missionário em seu ministério. Estamos a caminho do jubileu da esperança! Quero
com fraterno coração, pedir aos amados sacerdotes que nestes dias do Tríduo
Pascal vivam com alegria e paz e sejam confirmados com estes apontamentos que
estou sugerindo para uma reflexão profunda na caminhada eclesial. A acolhida
que devemos ter a começar pelos nossos irmãos sacerdotes, acolhendo a todos os
fiéis sem distinção, oferecendo assim o testemunho da caridade e da compaixão
que é a gênese de nosso ministério! Só Deus vê o interior do coração das
pessoas e a missão sacerdotal é recuperar os que estão caídos na beira do
caminho. A gênese da Páscoa é a vida e a vida plena que venceu a morte e o
pecado! Com a Páscoa tudo recomeça, é o novo início para todos nós. Renovamos
as promessas sacerdotais e as do nosso batismo, renovamos os sinais dos Ramos e
dos Santos Óleos. Renovamos nossas vidas com a celebração penitencial e com as
práticas quaresmais. Que seja este tempo um novo início como se estivesse
começando agora. Sejam ainda mais sinais de esperança para nosso povo como
vocês já tem sido. Deus abençoe o seu ministério e acolha a todos, todos,
todos! Feliz e Santa Páscoa! Um abraço fraterno!
Mais uma vez beijo a mão
consagrada de cada um de vocês e peço que Deus abençoe a todos! Orani João